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SARS-CoV-2: Como o Vírus Infecciona Células Testiculares e Utiliza Seus Recursos para Se Multiplicar

3 Min

O vírus da COVID-19 sequestra a maquinaria das células testiculares responsáveis pela produção do hormônio testosterona, permitindo sua replicação. Pesquisadores da Faculdade de Odontologia da Universidade Estadual de São Paulo (FOAr-Unesp), em parceria com a Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP-USP), investigaram este fenômeno em testículos de camundongos transgênicos.

Impactos do SARS-CoV-2 na Produção de Testosterona

O estudo, apoiado pela FAPESP, revelou pela primeira vez a presença de partículas do SARS-CoV-2 em inclusões lipídicas e organelas de células de Leydig, essenciais na produção de testosterona. A pesquisa mostra como o vírus interfere no funcionamento dessas células, ajudando a entender por que homens com COVID-19 grave apresentam níveis reduzidos de testosterona e colesterol.

“O vírus utiliza as vías do metabolismo lipídico e a estrutura celular para se replicar, prejudicando a produção de testosterona”, destaca Estela Sasso-Cerri, coordenadora do estudo. As células de Leydig apresentam altas concentrações do receptor ACE2, o que facilita a entrada do vírus.

Mecanismos de Infecção

Os camundongos transgênicos utilizados no experimento expressam o receptor viral ACE2 e, ao serem infectados, desenvolvem a COVID-19 de maneira semelhante aos humanos. Os resultados mostraram que o SARS-CoV-2 altera o metabolismo lipídico, utilizando o colesterol normalmente destinado à produção de testosterona para sua replicação.

Embora as células de Leydig infectadas apresentem baixa testosterona, elas ficaram repletas de lipídios devido ao aumento da internalização de colesterol.

Repercussões Imunológicas

Alterações funcionais nas células de Leydig foram observadas após a infecção. Essas células deixaram de produzir hormônios esteroides e começaram a apresentar um perfil imunológico, produzindo citocinas pró-inflamatórias em grande quantidade. Segundo Salmo Azambuja de Oliveira, primeiro autor do estudo, esse aumento pode ter prejudicado ainda mais a produção de testosterona.

Implicações Clínicas

Esses achados são significativos para a compreensão da disfunção endócrina testicular associada à infecção viral. Os resultados reforçam a relação entre baixos níveis de colesterol em pacientes com COVID-19 grave e a vulnerabilidade masculina à doença, além da alta taxa de mortalidade nesse grupo.

O estudo abre novas perspectivas para a elaboração de marcadores que indiquem a severidade da COVID-19 e para o desenvolvimento de terapias com drogas hipolipemiantes, que podem interferir no metabolismo lipídico e inibir a replicação viral.

O artigo "SARS-CoV-2 exploits steroidogenic machinery, triggers lipid metabolism for viral replication and induces immune response in Leydig cells of K18-hACE2 mice" pode ser acessado em: Frontiers in Cellular and Infection Microbiology.

Informações da Agência FAPESP

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