Reintrodução de Espécies em Alagoas: Um Esforço pela Conservação da Mata Atlântica
Em janeiro deste ano, 20 papagaios-chauá (Amazona rhodocorytha), considerados extintos em Alagoas, começaram a ser reintroduzidos em uma reserva florestal de mil hectares em Coruripe, a 86,5 quilômetros de Maceió. Nos próximos meses, essa iniciativa deve incluir outras espécies, como o mutum-de-alagoas (Pauxi mitu), jabutis e macucos (Tinamus solitarius).
O principal objetivo da reintrodução dessas espécies é restaurar a fauna original da Mata Atlântica, um bioma crucial para a biodiversidade, mas ameaçado pela urbanização e atividades agrícolas, como a produção de açúcar e álcool. Este esforço visa restaurar a funcionalidade do ecossistema local.
Os resultados do projeto, denominado ARCA e apoiado pela FAPESP, foram apresentados durante o Fórum Brasil-França sobre Florestas, Biodiversidade e Sociedades Humanas, realizado no Museu Nacional de História Natural (MNHN) de Paris, em junho.
Importância da Recuperação da Mata Atlântica
Luís Fábio Silveira, vice-diretor do Museu de Zoologia da USP e coordenador do projeto, enfatiza que a área de reintrodução abriga a maior quantidade de pau-brasil (Paubrasilia echinata) fora do sul da Bahia. No entanto, enfrenta desafios, como a reconexão florestal e a manutenção da floresta, que está colapsando devido à ausência de dispersores de sementes.
Para enfrentar esses problemas, os pesquisadores estão soltando aves e jabutis criados em cativeiro, que ajudam na dispersão de sementes, enquanto implementam programas de reconexão de fragmentos florestais. Silveira afirma que essa área servirá como modelo para futuras iniciativas de restauração na Mata Atlântica.
Conversão em Reserva Florestal
A transformação da área em reserva florestal foi um processo complexo que envolveu o Ministério Público e organizações não governamentais (ONGs). Na maioria dos casos, os fragmentos florestais em Alagoas são de propriedade privada, principalmente de usinas de açúcar e álcool. Como esses fragmentos não são grandes o suficiente para que o poder público possam reivindicá-los como reservas, pesquisadores buscaram convencer os proprietários a transformar áreas prioritárias em Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPN), que garantem a conservação da biodiversidade sem restrições tão severas.
Proteção e Envolvimento da Comunidade
Desde o início do programa em 2018, uma das espécies reintroduzidas foi o mutum-de-alagoas, que era considerado extinto na natureza há 40 anos. A reintrodução dessa ave, a maior do Nordeste brasileiro, foi essencial para promover a preservação de outras espécies e a vegetação local, uma vez que exige grandes áreas florestais.
Em setembro de 2019, a primeira reintrodução de mutum-de-alagoas ocorreu em uma reserva privada em Rio Largo, com sucesso em criar um ambiente favorável para a reabilitação da espécie. Esta iniciativa não só trouxe a ave de volta ao seu habitat, mas também gerou uma onda de apoio público, refletida em eventos locais e na declaração do mutum como ave símbolo do Estado.
Vigilância e Monitoramento
O monitoramento da reintrodução é realizado por membros da comunidade, que agora atuam como "guardians" das aves. Silveira recebe relatórios diários sobre a saúde e movimento dos papagaios-chauá, celebrando cada avanço na reintegração das aves à floresta.
As aves foram mantidas em aclimatação durante dois anos, passando por testes comportamentais e físicos antes da reintrodução. Silveira observa que, embora alguns não tenham passado nos testes, o sucesso da reintrodução representou um importante passo rumo à recuperação da biodiversidade da região.
Este esforço colaborativo destaca a importância da conservação e a necessidade de envolver as comunidades locais na proteção da fauna e flora do Brasil, assegurando que as tradições e a natureza se entrelacem de forma sustentável.
Informações da Agência FAPESP
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