Poucas doenças são tão cercadas por mitos e desinformação quanto a diabetes. A cada novo vídeo viral ou corrente de WhatsApp, surgem diversas teorias a respeito. Algumas alegam que açúcar mascavo é inofensivo ou que comer doce em jejum é mortal. Outras comparam frutas a refrigerantes na bandeira de “alimentos que aumentam a diabetes”. No meio de tantas fake news, muitos acreditam que a simples ingestão de um brigadeiro pode ser o gatilho para desenvolver essa doença crônica. Mas será que é assim mesmo?
A diabetes é uma condição metabólica caracterizada pelo mau funcionamento na produção ou utilização da insulina, hormônio responsável por regular a quantidade de glicose no sangue. Existem diferentes tipos da doença, cada uma com suas causas, sintomas e tratamentos. Apesar da diabetes estar fortemente ligada ao açúcar, ela envolve fatores genéticos, ambientais e comportamentais. Desenvolver esse mal é mais complexo do que parece à primeira vista.
É fácil entender porque tantas pessoas buscam explicações simplistas para algo tão sério. Em um mundo veloz, as pessoas querem respostas rápidas, causas diretas e soluções mágicas. No entanto, o corpo humano não funciona de maneira tão linear. A saúde é um equilíbrio delicado, influenciado por escolhas diárias, histórico familiar, hábitos de vida e até mesmo pelo ambiente ao redor. Conscientizar-se sobre isso representa o primeiro passo para tomar decisões mais informadas.
Como realmente os doces causam diabetes? A crença popular de que esses alimentos são os responsáveis é antiga e, em parte, compreensível. A diabetes está diretamente ligada à forma como o corpo processa a glicose. No entanto, afirmar que o consumo de doces isoladamente provoca sua ocorrência é um equívoco. A doença não é resultado apenas do açúcar, mas de um conjunto de fatores, incluindo aspectos genéticos e comportamentais.
É fundamental discernir os diferentes tipos de diabetes. O tipo 1, por exemplo, é uma condição autoimune. Nesse caso, o sistema imunológico ataca as células do pâncreas responsáveis pela produção de insulina, e o consumo de doces não tem influência direta sobre sua manifestação. Já a diabetes tipo 2, comum entre adultos, está muito mais relacionada à obesidade, ao sedentarismo, à alimentação descontrolada e à predisposição genética.
Portanto, dizer que “doces causam diabetes” simplifica uma problemática complexa e pode ter consequências negativas. O consumo frequente e excessivo de doces pode, de fato, contribuir para o ganho de peso e para o aumento da resistência à insulina, elevando o risco de desenvolver diabetes tipo 2. Entretanto, essa coroação não se dá de maneira direta ou automática. O problema não está no doce isoladamente, mas no contexto alimentar em que ele está inserido.
Além disso, a questão da quantidade e frequência de consumo se torna essencial. Ingerir uma sobremesa ocasional ou um pedaço de bolo aos fins de semana não obriga ninguém a desenvolver diabetes. O problemático é o consumo diário e excessivo, especialmente quando associado a hábitos prejudiciais como o sedentarismo ou ao consumo alto de alimentos ultraprocessados.
Outro fator crucial é a qualidade dos doces. Produtos industrializados, que contêm açúcar refinado, gordura trans e aditivos químicos, têm um impacto muito mais negativo em comparação com doces caseiros preparados com ingredientes naturais. Além de afetar a glicemia, esses produtos aumentam os riscos de inflamações crônicas, disfunções metabólicas e doenças cardiovasculares, problemas que frequentemente acompanham a diabetes tipo 2.
Neste contexto, a educação alimentar se torna essencial para desmistificar a relação entre o açúcar e o desenvolvimento de doenças. Compreender o funcionamento da insulina, conhecer o papel dos carboidratos e estar atento aos sinais precoces da resistência insulínica ajuda as pessoas a tomarem decisões mais conscientes. Não se trata de demonizar os doces, mas de oferecer informações adequadas, permitindo que todos façam escolhas equilibradas.
Por exemplo, às crianças não deve ser imposto um consumo restrito de doces, mas devem ser ensinadas a consumir com >equilíbrio. A formação de hábitos saudáveis desde a juventude, com uma alimentação variada recheada de fibras, frutas e proteínas, reduz a probabilidade de desenvolver a obesidade infantil e, em consequência, a diabetes na adolescência ou na vida adulta.
Já em adultos, o consumo recorrente de refrigerantes, sucos industrializados e alimentos com carboidratos simples se torna alarmante. Esses itens podem provocar picos glicêmicos e aumentam a demanda por insulina, o que, a longo prazo, pode resultar em resistência insulínica. Essa resistência é frequentemente um indicador que antecede o diagnóstico de diabetes tipo 2.
O entendimento adequado e as escolhas saudáveis são indispensáveis. Para tanto, recomenda-se manter um peso saudável, praticar atividades físicas com regularidade, não fumar e seguir uma alimentação equilibrada, conforme diretrizes estabelecidas pelo CDC. Além disso, o controle do estresse e um sono de qualidade são essenciais, pois influenciam a resposta hormonal do organismo.
Por fim, a importância do acompanhamento médico e de exames regulares não deve ser ignorada. Muitas pessoas convivem com pré-diabetes sem sequer perceber, já que os sinais podem ser silenciosos. Fazer exames periódicos de glicemia. . .