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Mercúrio em Níveis Elevados: Pescadores da Laguna Mundaú, Maceió, Atingem Valores Acima da Média

4 Min

Pesquisadores das universidades Federal de Alagoas (Ufal) e Estadual de Campinas (Unicamp) identificaram altos níveis de mercúrio no sangue e na urina de populações que vivem nas margens da laguna Mundaú, em Maceió (AL). Os resultados mostram que esses níveis são significativamente superiores aos encontrados em outras populações do mesmo município, mas que vivem distantes da laguna.

Esse estudo, oriundo de um convênio entre a FAPESP e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas (Fapeal), foi publicado no Journal of Hazardous Materials.

Efeitos da Contaminação por Mercúrio

Os pesquisadores evidenciaram um quadro de estresse oxidativo sistêmico nas populações afetadas, que pode agravar diversas doenças, inclusive as cardiometabólicas. Ambas as comunidades analisadas apresentaram cerca de 20% de hipertensão arterial e 10% de diabetes. Contudo, a população que consome alimentos da laguna pode enfrentar complicações adicionais devido à contaminação.

A pesquisa revelou alterações nas características dos glóbulos vermelhos entre aqueles expostos ao mercúrio, levando potencialmente à anemia. Outros biomarcadores sinalizam danos em órgãos, como o fígado e os rins. Notou-se também um aumento nos níveis de triglicérides, um importante fator de risco para doenças cardiovasculares.

Contaminação da Laguna Mundaú

O complexo lagunar Mundaú conecta-se ao mar e recebe água do oceano e do continente, além de estar interligado a canais de efluentes domésticos e industriais, que são as prováveis fontes de contaminação por mercúrio e outros metais pesados.

A pesquisa coletou amostras de sangue e urina de 125 pessoas: 60 residentes da laguna, que consomem peixes e mariscos (especialmente sururu) da área, e 65 habitantes de outras partes da cidade, com pouco ou nenhum contato com o local contaminado. Nos resultados, a concentração de mercúrio na urina do primeiro grupo foi de 0,48 micrograma por litro, quase 2,5 vezes mais do que o grupo-controle (0,18 micrograma por litro). No sangue, a média de mercúrio foi de 3,40 microgramas por litro no grupo exposto, comparado a 0,93 no grupo não exposto, com o nível mais elevado alcançando 19 microgramas por litro entre as famílias de pescadores.

Regulações e Necessidade de Monitoramento

A legislação brasileira determina um nível máximo tolerável de 20 microgramas de mercúrio por litro de sangue. Em contrapartida, agências internacionais, como a EPA, recomendam limites mais baixos, entre 5 e 10 microgramas para populações que consomem peixe. Os pesquisadores ressaltam que a legislação brasileira é excessivamente permissiva e que é necessário um monitoramento prolongado das populações para avaliar de maneira precisa os efeitos da contaminação.

Conclusões e Recomendações

Os resultados desse estudo fornecem evidências robustas para implementar políticas ambientais e de saúde, visando reduzir a poluição na laguna e monitorar a saúde das populações afetadas. "Compreender melhor e mitigar os impactos da contaminação é essencial", afirma um dos pesquisadores.

A pesquisa dada continuidade, com o monitoramento de outros metais que possam intensificar os efeitos do mercúrio. No entanto, um dos bairros analisados, Bebedouro, não poderá mais ser visitado devido a riscos de desabamento relacionados à mineração de sal-gema na região.

O artigo "Exposure to a contaminated environment and its relationship with human health: Mercury effect on loss of functionality and increased oxidative stress of blood cells" está disponível em: ScienceDirect.

Palavras-chave:

  • Contaminação por mercúrio
  • Laguna Mundaú
  • Saúde populacional
  • Estresse oxidativo
  • Doenças cardiovasculares

Esses elementos otimizam a compreensão e a pesquisa sobre os impactos da contaminação por mercúrio em populações vulneráveis.

Informações da Agência FAPESP

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