A Importância do Microbioma Oral no Câncer de Cabeça e Pescoço
Nos últimos anos, o foco nos cuidados com a saúde bucal expandiu-se bem além da prevenção de cáries e doenças gengivais, destacando a relevância do microbioma oral. Este ecossistema microbiano, que habita naturalmente a cavidade bucal, está se mostrando crucial na compreensão de várias condições, incluindo o câncer.
Fusobacterium nucleatum e suas Implicações
Entre os microrganismos de maior interesse, a Fusobacterium nucleatum se destaca. Normalmente presente em baixos níveis na flora bucal saudável, sua proliferação descontrolada está associada a doenças inflamatórias, como a periodontite, e, mais alarmante, ao aumento do risco de câncer, incluindo câncer de cabeça e pescoço e câncer colorretal.
Pesquisadores do Hospital de Amor têm investigado a relação entre F. nucleatum e câncer colorretal, expandindo suas pesquisas para tumores de cabeça e pescoço. Descobriram que a presença dessa bactéria está ligada a um melhor prognóstico e maior sobrevida dos pacientes. Os resultados foram publicados no Journal of Oral Microbiology e evidenciam a necessidade de considerar o microbioma oral na oncologia.
Metodologia Avançada e Descobertas Surpreendentes
Liderado pelo Dr. Rui Manuel Reis, o estudo utilizou PCR digital para detectar F. nucleatum em amostras de tecido tumoral. Analisando 94 amostras, os pesquisadores conseguiram identificar a bactéria em 59,6% dos casos, especialmente em tumores de orofaringe.
Uma descoberta intrigante foi a presença da bactéria dentro das células tumorais, o que contradiz a expectativa de que estaria apenas na cavidade bucal. Essa localização sugere um papel inexplorado da bactéria no microambiente tumoral, o que pode influenciar a agressividade do câncer.
Prognóstico e Resposta ao Tratamento
Os dados indicam que pacientes com tumores contendo F. nucleatum tiveram uma sobrevida média de 60 meses, em comparação com 36 meses para aqueles sem a bactéria. Essa associação positiva é fascinante, especialmente considerando que, em outros tipos de câncer, a presença da bactéria geralmente indica maior agressividade.
Ainda não se compreende totalmente a razão dessa relação benéfica nos cânceres de cabeça e pescoço. Uma possibilidade é que a bactéria modula fatores imunológicos, potencializando a resposta imune e reduzindo a agressividade do tumor.
Direções Futuras na Pesquisa
Os pesquisadores planejam investigar se a presença de F. nucleatum pode influenciar a resposta às terapias, abrindo caminho para tratamentos mais personalizados. A validação dessa bactéria como biomarcador poderia revolucionar o prognóstico no câncer de cabeça e pescoço.
O Panorama do Câncer de Cabeça e Pescoço no Brasil
O câncer de cabeça e pescoço inclui uma variedade de tumores que podem afetar a boca, faringe, laringe, nariz e outras regiões. Fatores de risco incluem tabagismo, consumo de álcool, infecção por HPV e má higiene bucal. Dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca) mostram que cerca de 80% dos casos diagnosticados entre 2000 e 2017 estavam em estágios avançados, ressaltando a urgência de diagnósticos precoces e novas ferramentas prognósticas.
Para ler o artigo completo, acesse: Journal of Oral Microbiology.
Informações da Agência FAPESP