banner

Chimpanzés utilizam plantas medicinais para curar feridas

5 Min

Título: “O Cuidado dos Chimpanzés: Uma Janela para o Passado Evolutivo da Saúde Humana”

No dia 13 de agosto, a revista Frontiers in Ecology and Evolution publicou um artigo instigante revelando que chimpanzés na floresta de Budongo, em Uganda, não cuidam apenas de suas próprias feridas. Esses primatas demonstram também um comportamento altruísta ao assistir a membros do grupo que se machucaram. Este achado tem potencial para iluminar como os primeiros humanos começaram a desenvolver práticas de cuidado com a saúde.

O estudo, coordenado pela pesquisadora Elodie Freymann, da Universidade de Oxford, apresenta evidências que reforçam a ideia de que o cuidado entre chimpanzés é uma manifestação importante da empatía. Tornando-se mais comum e frequente em Budongo do que em outros lugares, esse comportamento sugere que, mesmo sem laços familiares próximos, esses animais podem identificar e atender às feridas alheias.

Para Freymann, o estudo oferece novas pistas sobre as raízes evolutivas da medicina humana. Em um comunicado, ela destacou que observar o autocuidado e a ajuda mútua entre as espécies revela questões sociais e cognitivas relacionadas ao cuidado com a saúde. Isso implica que a evolução do cuidado pode ser um fenômeno muito mais antigo do que se pensava.

A investigação abrangeu duas comunidades de chimpanzés: Sonso e Waibira. Esses primatas vivem sob riscos diversos, como brigas entre si e armadilhas mortais estabelecidas por humanos. Em Sonso, dados apontam que aproximadamente 40% dos chimpanzés exibem ferimentos associados a laços.

Durante quatro meses, a equipe de pesquisa acompanhou os chimpanzés de perto e revisou vídeos de um banco de dados, além de registros de campo de outros investigadores. Essa análise cuidou de identificar quais plantas os chimpanzés utilizavam para tratar seus ferimentos.

Uma descoberta notável foi que algumas dessas plantas possuem substâncias com propriedades que lembram a medicina tradicional humana. Essa revelação sugere que os chimpanzés possam ter desenvolvido uma compreensão intuitiva das propriedades que ajudam na recuperação, escolhendo os recursos mais eficazes.

No total, 41 observações de cuidado de saúde foram registradas, sendo 34 referentes ao tratamento das próprias feridas pelos chimpanzés e sete casos de cuidado com outros gatos do grupo. Entre as ações observadas, destacam-se: lamber feridas, pressioná-las com as mãos e aplicar folhas ou materiais vegetais mastigados.

Estas práticas desempenham um papel vital na higiene dos ferimentos, evitando infecções e acelerando a cicatrização. Todos os primatas que receberam cuidados indicaram sinais de melhora. Além disso, hábitos de higiene, como a limpeza de órgãos genitais e ânus após atividades como o acasalamento, foram documentados pelos pesquisadores.

A análise mais aprofundada dessas interações revela que entre os sete casos em que chimpanzés cuidaram de outros, quatro foram voltados para feridas, dois para a remoção de armadilhas, e um deve-se à higiene. O aspecto mais fascinante está na ausência de restrições a laços genealógicos: chimpanzés sem nenhuma relação ajudaram uns aos outros.

Isso fortalece a hipótese de que eles têm a capacidade de reconhecer o sofrimento do outro e de agir, mesmo sem a expectativa de algo em troca. Os cientistas especulam que a frequência de ferimentos, especialmente devido a armadilhas humanas, pode ter elevado a importância do reconhecimento mútuo do sofrimento, gerando um comportamento altruísta.

Entretanto, apesar das revelações significativas do estudo, certas limitações foram identificadas. A comunidade Sonso, sendo mais familiarizada com a presença humana, portanto, apresentou comportamentos que puderam ser observados com maior facilidade. Isso pode gerar um viés em relação aos resultados obtidos na comunidade da Waibira.

- Advertisement -

Ademais, mais investigações são necessárias para explorar de forma conclusiva as propriedades medicinais das plantas utilizadas pelos chimpanzés. A escassez de casos documentados de ajuda mútua entre essas criaturas dificulta a detalhação de padrões claros.

Ainda assim, as descobertas apresentam um panorama intrigante para o entendimento das origens do cuidado e da empatia. Essa pesquisa abre novos caminhos que ajudam a decifrar as nuances evolutivas do comportamento humano em saúde e assistência. Com isso, permanecemos um passo mais próximos de compreender como a caminhada dos homens outrora se entrelaçou com a de nossos primos primatas em busca de cura e sobrevivência.

Compartilhe Isso