Ácaro-Rajado Afeta Cafezais no Espírito Santo: Alerta para Produtores de Café
Um estudo publicado na revista Acarologia trouxe um alerta para os produtores de café do Espírito Santo sobre o ácaro-rajado (Tetranychus urticae), tradicionalmente uma praga do mamão, que causou danos significativos em cafezais da variedade Coffea canephora (café conilon). A descoberta ocorreu em lavouras consorciadas com mamão no município de Boa Esperança, onde os ácaros atacaramm as folhas jovens do café, resultando em deformações, necrose e queda prematura.
O Brasil, sendo o maior produtor mundial de café, possui no Espírito Santo a liderança na produção do conilon, que representa cerca de 30% da safra nacional. É comum na região o cultivo consorciado de café e mamão nos primeiros anos, o que oferece sombreamento aos cafeeiros enquanto proporciona renda ao produtor. Contudo, a proximidade com os mamoeiros, hospedeiros preferenciais do ácaro-rajado, parece ter facilitado a migração desses ácaros para os cafeeiros.
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Os pesquisadores notaram que os ácaros se concentravam no verso das folhas jovens, produzindo abundantes teias e causando malformações foliares, necrose e queda de folhas. Em um local analisado, aproximadamente 30% das plantas foram afetadas. Curiosamente, diferente de outras culturas, onde o ácaro ataca folhas mais velhas, no café, o ataque ocorreu nas folhas jovens, levantando questões sobre esse comportamento.
Além das questões fitossanitárias, o controle do ácaro-rajado é complicado, levando os produtores a aumentarem o uso de acaricidas, muitas vezes de forma indiscriminada. Isso pode resultar na seleção de populações resistentes e na eliminação de inimigos naturais do ácaro. O professor Raphael Castilho destaca também que as mudanças climáticas podem intensificar o problema, já que o ácaro prefere ambientes com baixa umidade e altas temperaturas.
Estratégias de Controle Eficazes
Para combater o ácaro-rajado, os pesquisadores recomendam monitorar frequentemente tanto os cafeeiros quanto os mamoeiros. Ao identificar a presença do ácaro, os acaricidas devem ser utilizados apenas nos mamoeiros, já que não há registros para o controle desse ácaro em cafeeiros no Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa). É crucial aplicar as dosagens corretas e alternar produtos com modos de ação distintos para evitar resistência.
Uma alternativa sustentável é o controle biológico utilizando ácaros predadores, como Neoseiulus californicus e Phytoseiulus macropilis, que controlam efetivamente a população do ácaro-rajado. Essas espécies já são produzidas comercialmente no Brasil e têm registro no Mapa para o controle em várias culturas agrícolas.
A pesquisa em andamento visa também ampliar o conhecimento sobre a diversidade de ácaros predadores nos biomas brasileiros, contribuindo para formas de controle mais sustentáveis. A importância desse estudo é ressaltada pela FAPESP, que apoia o mapeamento e a descrição das espécies encontradas, além do estabelecimento de criações laboratoriais.
O artigo "A pest out-of-place: two-spotted spider mite, Tetranychus urticae (Tetranychidae), on coffee plants" pode ser lido em: Leia aqui.
Palavras-chave: ácaro-rajado, Tetranychus urticae, café conilon, controle biológico, Espírito Santo, produção de café, agricultura sustentável.
Informações da Agência FAPESP