Um grupo de pesquisadores apoiado pela FAPESP desenvolveu uma nova formulação para o praziquantel, o único medicamento disponível para tratamento de helmintoses, como esquistossomose e teníase. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 400 milhões de pessoas no mundo apresentam verminoses.
Melhorias na Formulação do Praziquantel
O praziquantel, frequentemente comercializado em grandes comprimidos que são difíceis de engolir, apresenta dificuldades especialmente para crianças e animais de estimação. Além de seu gosto amargo, a administração do medicamento se torna desafiadora.
A nova formulação utiliza nanotecnologia, tornando-se solúvel em água e permitindo uma absorção mais eficiente, necessitando apenas de metade da dose habitual para atingir o mesmo efeito. Esta inovação possui um pedido de patente já registrado.
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Os resultados da pesquisa foram publicados na revistas ACS Applied Nano Materials, da Associação Americana de Química.
Desafios das Doenças Tropicais Negligenciadas
“Doenças tropicais negligenciadas carecem de inovações em tratamento devido à falta de interesse da indústria em investir em fármacos para populações de baixo poder aquisitivo”, afirma Josué de Moraes, líder do Núcleo de Pesquisa em Doenças Negligenciadas da Universidade Guarulhos (UnG).
Apesar do praziquantel ter sido desenvolvido há mais de 40 anos, sua eficácia varia entre 75% a 95%. O desenvolvimento de novos medicamentos é um processo demorado e custoso, por isso a nova formulação é um passo inovador que visa à melhoria na aceitação do medicamento por crianças e animais.
Projeto de Pesquisa e Ensaios
A pesquisa faz parte do projeto “Seleção de fármacos com atividade anti-helmíntica, nanoencapsulação e avaliação pré-clínica em modelo experimental de esquistossomose”, também apoiado pela FAPESP. A primeira autora do artigo, Ana Carolina Araujo Mengarda, desenvolveu a formulação em colaboração com a Universidade de Brasília (UnB).
Após a elaboração, os pesquisadores da UnG realizaram ensaios com parasitas, modelos animais e células de mamíferos, mostrando que a nova formulação apresenta menor toxicidade e maior eficácia na eliminação de esquistossomos.
Inovação e Futuro da Formulação
Em 2021, a OMS lançou um roteiro para acelerar o controle de doenças tropicais até 2030, destacando a necessidade de formulações pediátricas para o praziquantel. Na atualidade, um comprimido pediátrico orodispersível está em estudos clínicos por meio de um consórcio internacional.
A nova formulação brasileira é econômica, disfarça o gosto amargo e utiliza uma dose mínima. Sua estrutura em duas fases, uma oleosa e outra aquosa, facilita a absorção mais eficiente, reduzindo a quantidade necessária.
Combinação com Outros Fármacos
Uma vantagem adicional é a possibilidade de combinar essa nova formulação com outros princípios ativos para tratar diferentes verminoses, algo já utilizado na indústria veterinária. Os pesquisadores estão realizando testes voltados para o mercado veterinário, onde a regulação de medicamentos é menos onerosa.
Elembrando que o controle de doenças nos animais é essencial, pois alguns parasitas podem infectar humanos.
Colaboração e Produção em Larga Escala
Os pesquisadores estão abertos a parcerias com instituições públicas e privadas para realizar testes clínicos e introduzir este novo produto no mercado. A viabilidade da produção semi-industrial também foi confirmada, facilitando a produção em larga escala no futuro.
O estudo teve apoio adicional da FAPESP, incluindo Bolsa de Iniciação Científica a Vinícius de Castro Rodrigues, coautor. O artigo “Praziquantel Nanoparticle Formulation for the Treatment of Schistosomiasis” pode ser acessado aqui.
Informações da Agência FAPESP