Dormir Pouco ou Dormir Demais: Como Ambas as Situações Afetam a Saúde?
Um conceito amplamente aceito na sociedade é que dormir pouco faz mal para a saúde. Nessa linha, a ciência e a medicina corroboram essa crença, apontando que a privação do sono pode comprometer a imunidade, afetar a saúde mental e provocar problemas cognitivos e alterações metabólicas. Contudo, uma nova pesquisa realizada pela Universidade Federal de Minas Gerais revela que, inversamente, dormir em excesso também pode ser prejudicial ao organismo.
A responsável pelo estudo, a doutora Tamiris Rezende, compartilhou suas descobertas em um artigo publicado no site The Conversation. Neste artigo, a especialista discute a dualidade do sono e suas implicações para a saúde.
Portanto, caso você ache que dormir demais é sinônimo de descanso completo, é hora de repensar esse conceito. Mas antes de aprofundarmos nos resultados da pesquisa, é fundamental compreender o que significa "dormir pouco" e "dormir demais".
Os especialistas afirmam que uma boa noite de sono deve duram cerca de sete a oito horas. Aqueles que caem abaixo de seis horas de sono são considerados a sofrer de privação. Por outro lado, a situação oposta, que caracteriza dormir por nove horas ou mais, é igualmente prejudicial. Como resultado, tanto o sono insuficiente quanto o excessivo podem gerar consequências negativas para a saúde.
O Estudo em Detalhes
Para fundamentar suas conclusões, a doutora Rezende utilizou dados do Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (Elsa) Brasil. Essa pesquisa abrangeu informações de mais de sete mil adultos e idosos, com idades variando entre 55 e 79 anos, coletadas entre os anos de 2014 e 2017. O foco do estudo recaiu especificamente sobre funções cognitivas, como memória e fluência verbal.
Testes detalhados foram realizados para avaliar essas funções cognitivas, e os participantes que dormiram em média sete horas obtiveram os maiores índices de desempenho. A doutora Rezende conclui que tanto a privação quanto o excesso de sono prejudicam a saúde. Os resultados mostram que aqueles que convivem com insônia apresentaram as piores média nas avaliações cognitivas.
Tal pesquisa, segundo a especialista, é aplicável também para a população idosa. Ou seja, a crença de que idosos estão benificados por dormir menos ou em excesso não encontra respaldo científico.
A doutora defende a necessidade de tratamento para distúrbios do sono como forma de prevenir o declínio cognitivo e demências em longo prazo. Ela sugere intervenções que melhorem a qualidade do sono, especialmente na meia-idade, visando melhorar a saúde cognitiva e a qualidade de vida.
Dados a Respeito do Sono no Brasil
A situação do sono no Brasil é alarmante. Dados apresentados pela doutora Rezende revelam que aproximadamente 76% dos brasileiros acima de 16 anos têm ao menos uma queixa relacionada ao sono. Isso equivale a cerca de 108 milhões de pessoas.
Outra pesquisa recente indica uma alta prevalência de insônia, variando de 45,9% a 58,6% entre brasileiros com 50 anos ou mais. Além disso, há registros significativos de sono curto em indivíduos de 40 a 59 anos, e longevidade na faixa etária acima dos 60 anos. Essas estatísticas arrasam a ideia de que o problema do sono é apenas uma questão isolada.
Esse cenário ressaltou a importância de abordar a saúde do sono de maneira abrangente. Em 2017, o Brasil tinha cerca de 30,2 milhões de idosos, com 60 anos ou mais. Em 2022, esse número cresceu para 32,1 milhões, representando 15,6% da população total. As prognoses indicam um crescimento contínuo dessa faixa etária vital.
Como a pesquisa deixou claro, ter acesso a um sono de qualidade pode ser crucial para fomentar uma melhoria na qualidade de vida, especialmente para os mais velhos. Isso não é apenas uma questão de cuidado com os idosos, mas também um tópico que requer nossa atenção, pois dia após dia nos aproximamos da mesma realidade.
Em um mundo que valoriza a eficiência e a produtividade, os riscos subestimados do sono excessivo e sua privação não podem ser desconsiderados. Abordar a saúde do sono deve ser uma prioridade, não apenas para a proteção da população idosa, mas para garantir uma qualidade do futuro que desejamos para nós mesmos.
As informações completas podem ser encontradas no artigo da doutora Tamiris Rezende no site The Conversation.