Estudo inédito revela segredos da imunidade dos morcegos a vírus letais
Pesquisadores da Universidade Estadual de Washington (WSU), nos Estados Unidos, realizaram uma descoberta significativa sobre a capacidade dos morcegos de conviver com patógenos perigosos, como os coronavírus e hantavírus, sem apresentar sintomas graves. Frente a um cenário global de pandemia, compreender o que confere essa resistência a esses animais é de interesse crescente não apenas para a comunidade científica, mas para as autoridades de saúde pública em todo o mundo.
A liderança do trabalho ficou a cargo do virologista Michael Letko, que desenvolveu a partir de células renais do morcego-de-cauda-curta-de-Seba (Carollia perspicillata) duas novas linhagens celulares. Essas linhagens agora estão disponibilizadas para a comunidade científica por meio de um repositório público, permitindo que pesquisadores de diferentes partes do mundo explorem estas células de forma acessível. O estudo em questão foi publicado na renomada revista PLOS Biology, trazendo novos insights sobre a interação entre morcegos e vírus
Antes da aplicação desta nova abordagem, a maioria dos estudos utilizava células de humanos ou de roedores. Essa limitação restringia a capacidade de se compreender plenamente a tolerância única dos morcegos. A criação dessas linhagens celulares, portanto, promete revolucionar a pesquisa no campo da virologia, pois fornece uma base mais que apropriada para a investigação do sistema imunológico dos morcegos diante de infecções virais.
Os experimentos realizados com as novas células mostraram que elas suportam infecções de uma variedade de vírus. Dentre estes, destacam-se os coronavírus e ortohantavírus, incluindo o vírus Sin Nombre, que causou uma recente infecção fatal no estado de Washington. As informações reveladas pelo estudo demonstram a latente programação do sistema imune dos morcegos.
Letko discute em suas observações que embora os morcegos sejam reservatórios naturais de patógenos conhecida e extremamente perigosos para seres humanos e outros animais, possui-se uma biologia que até agora havia sido pouco explorada. Ele observou que as ferramentas para investigar essas questões em laboratório eram escassas até o momento. Reliquias de linhagens celulares de décadas atrás apresentavam incompatibilidades com os vírus contemporâneos de interesse. Assistência na escolha de métodos atuais fez o estudo avançar com precisão.
Por que esses morcegos toleram patógenos letais sem apresentar sinais de doenças? A resposta a essa pergunta apenas começou a ser desvendada. As novas linhagens celulares desenvolvidas pela equipe da WSU proporcionam timpos de respostas imunes mais relevantes e irão agregar novos e valiosos recursos às investigações futuras nesse segmento.
Novos planos para prevenção de surtos podem surgir
Em um esforço de promover a colaboração científica, as linhagens celulares foram compartilhadas abertamente com outros laboratórios. Este tipo de intercâmbio não apenas facilita o trabalho interdisciplinar, como também permite que diferentes cientistas embarquem em investigações com propósito comum.
Da mesma forma, a pesquisa apresenta implicações que podem resultar em novas estratégias no combate a surtos em humanos. O foco agora será utilizar essas células desenvolvidas para analisar como os morcegos evitam os danos decorrentes de infecções. A resposta para isso poderá decorrer em possíveis alternativas terapêuticas e, principalmente, prevenção de novas epidemias.
À medida que se navega em um mundo devastado pela pandemia de COVID-19, o estudo das novas linhagens celulares revela-se vital. Apontam-se novos paradigmas no entendimento de como esses animais se defenderam com sucesso contra diversas complicações. O impacto positivo na saúde pública poderá ter melhores opções para a futura detecção e compreensão sobre os riscos que algumas zoonoses provocam.
As descobertas ressaltam que, para enfrentarmos tais vírus letais, a ciência pode progredir através da pesquisa orientada a explorar do próprio funcionamento da vida, resumindo em pesquisas cada vez mais amplas sobre a interação entre os morcegos e os vírus que eles carregam, tirando, quem sabe, lições valiosas para os humanos neste imenso e crucial trabalho de entender o nosso lugar em meio à natureza.