O Brasil possui uma vasta área marítima de aproximadamente 5,7 milhões de quilômetros quadrados, abrangendo 17 estados e 443 municípios costeiros, onde reside cerca de 18% da população brasileira. Apesar dessa relevância, os investimentos em pesquisa oceânica no país são extremamente baixos. Alexander Turra, professor do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo e coordenador do Programa FAPESP para o Atlântico Sul e Antártica (PROASA), ressalta que o Brasil, enquanto uma nação oceânica, destina apenas 0,03% do seu total de gastos em ciência para a pesquisa oceânica, muito abaixo da média mundial de 1,7%.
Para ampliar o conhecimento nessa área crucial, é necessário um aumento de investimentos de pelo menos 60 vezes, conforme avalia o pesquisador. Ele destaca que não basta apenas aumentar os recursos; é vital garantir a previsibilidade do financiamento para desenvolver diferentes sistemas de conhecimento e fortalecer observações, especialmente em relação ao Atlântico Sul e à Antártica. Esses são alguns dos objetivos centrais do PROASA, que foi discutido no evento “Diálogos PROASA”.
O encontro, realizado em 20 de março no Instituto do Mar da Universidade Federal de São Paulo, teve como propósito disseminar informações e discutir as linhas de pesquisa apoiadas pelo programa, além de apresentar chamadas de propostas destinadas à comunidade científica em ciências oceânicas. Outro propósito importante foi iniciar o mapeamento da ciência oceânica no Estado de São Paulo, avaliar a infraestrutura existente e identificar necessidades para integrar a comunidade científica, promovendo assim um protagonismo maior do Brasil na agenda de sustentabilidade do oceano.
Turra aponta que o Brasil é um líder geopolítico e científico no Atlântico Sul e na Antártica, mas não lidera nenhum programa da Década do Oceano, proclamada pela ONU para 2021-2030, o que representa um desafio significativo. O Estado de São Paulo conta com instituições e especialistas em ciências oceânicas, mas ainda possui influência global limitada.
O PROASA busca atuar como facilitador, estabelecendo parcerias que ampliem e qualifiquem o sistema de ciência, tecnologia e inovação, aumentando a competitividade do Brasil na agenda oceânica. Um dos princípios do programa é promover abordagens interdisciplinares, integrativas e inclusivas, valorizando diferentes sistemas de conhecimento, incluindo a ciência tradicional, local e indígena.
A interlocução com os atores locais é uma prioridade nos projetos desenvolvidos por pesquisadores do Instituto do Mar da Unifesp. Igor Dias Medeiros, diretor da instituição, destaca o empenho em entender o território e criar diálogo com as comunidades locais desde a constituição do instituto. A colaboração com outras universidades e o poder público da região através de convênios e projetos com secretarias de meio ambiente também tem sido efetiva, contribuindo para políticas públicas na Baixada Santista.
Os pesquisadores também participam de conselhos na área ambiental e trazem as discussões desses espaços para o colegiado, alinhando suas linhas de pesquisa com as demandas da região. Esse arranjo de diferentes atores no processo de produção de conhecimento é essencial para enfrentar desafios como a poluição marinha, que impacta tanto a Baixada Santista quanto diversas cidades litorâneas no Brasil e no mundo.
Adotar um modelo de coprodução e codesenho que une ciência, sociedade, tomadores de decisão e o setor privado é crucial para construir estratégias que promovam transformações significativas nas comunidades costeiras, conforme avalia Turra.
Informações da Agência FAPESP