Prognóstico de Paciente Crítico: A Importância do Olhar Médico em Comparação com a Avaliação por Inteligência Artificial

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A primeira impressão é fundamental, especialmente nas salas de emergência dos hospitais. Um estudo realizado com 725 adultos atendidos no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP) revela que a avaliação inicial dos médicos emergencistas é mais precisa do que modelos preditivos desenvolvidos por inteligência artificial (IA).

A Importância da Opinião Médica na Emergência

Financiado pela FAPESP e publicado no BMJ Supportive & Palliative Care, o estudo mostrou que a estimativa de recuperação feita por um médico emergencista teve uma acurácia de 79,2%, enquanto um modelo de IA ficava aquém dessa precisão. Isso destaca a relevância do "olhar médico", especialmente em cenários críticos, onde a experiência e o conhecimento são cruciais.

Os pesquisadores perguntaram aos médicos se se surpreenderiam se um paciente recém-atendido falecesse dentro de um ano. Essa percepção foi comparada com o acompanhamento dos pacientes durante a internação, todos classificados como casos graves. Os resultados indicam que o julgamento clínico inicial é muitas vezes preciso, mesmo com informações limitadas sobre a saúde prévia dos pacientes.

Análise Comparativa entre Médicos e IA

O estudo analisou também um escore clínico preditivo chamado The Quick Sequential Organ Failure Assessment (qSOFA). Este modelo, criado em 2016, é utilizado na medicina por ser baseado em variáveis clínicas simples, como frequência respiratória e pressão arterial. Entretanto, as avaliações dos médicos mostraram-se mais eficazes na previsão de desfechos.

Desdobramentos da Pesquisa: A Pergunta Surpresa

Uma das inovações do estudo foi a introdução da "pergunta surpresa", uma ferramenta que pode auxiliar no triagem de pacientes que necessitam de cuidados paliativos. Essa abordagem é essencial na melhoria da qualidade de vida de pacientes com doenças terminais, proporcionando alívio do sofrimento e controle da dor.

No Hospital das Clínicas de São Paulo, 20% dos médicos indicaram que não se surpreenderiam se os pacientes admitidos falecessem em um ano, indicando um critério de avaliação sobre terminalidade e a necessidade de integrar cuidados paliativos desde a emergência.

Próximos Passos

Ainda que os resultados sejam promissores, o pesquisador Júlio César Garcia de Alencar enfatiza a necessidade de mais estudos para validar intervenções baseadas em cuidados paliativos no ambiente de emergência. A pesquisa está na fase 2, com o objetivo de explorar a implementação de um plano de intervenções específicas para pacientes com prognósticos reservados.

O artigo completo, intitulado "The Physician Surprise Question in the Emergency Department: prospective cohort study", pode ser acessado aqui.

A relevância do julgamento clínico na emergência continua a ser um tema vital para a prática médica e a assistência ao paciente, enfatizando o equilíbrio entre a inteligência humana e as tecnologias emergentes na medicina.

Informações da Agência FAPESP

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