Os pequenos camarões do gênero Hippolyte têm uma impressionante capacidade de mudar de cor para se camuflar nas algas onde habitam, o que os ajuda a escapar de predadores. Dependendo do tipo de alga em que se encontram, esses crustáceos podem assumir cores vermelhas, verdes, marrons ou até transparentes.
Um estudo recente publicado no Journal of Animal Ecology revelou, pela primeira vez, a interação desses camarões com algas invasoras. Os resultados indicam que eles conseguem se camuflar até mesmo em algas marinhas provenientes de outros oceanos, com as quais não compartilharam um histórico evolutivo.
Nesse estudo, pesquisadores brasileiros e britânicos examinaram como o camarão-camaleão (Hippolyte varians), uma espécie que vive em praias da Europa, interage com duas algas exóticas, sendo uma originária da Ásia e a outra da Austrália. Essa espécie, com aproximadamente 3 centímetros de comprimento, é evolutivamente afim do camarão-carnavalesco (Hippolyte obliquimanus), comumente encontrado no litoral paulista.
Observa-se que, ao se deparar com diferentes tipos de algas, o camarão-camaleão não distingue entre nativas e exóticas, mas sim opta pela alga que oferece o melhor suporte para camuflagem. Durante a pesquisa, conduzida em poças formadas pela maré em duas praias de Falmouth, no sudoeste da Grã-Bretanha, os camarões foram colocados em um ambiente controlado onde puderam escolher entre duas algas: uma nativa e uma exótica.
Um dos principais achados do estudo é que a alga marrom, uma espécie de sargaço asiático, teve um aumento significativo nos últimos dez anos, impactando negativamente espécies nativas. Apesar disso, essa alga se mostrou um excelente abrigo para os camarões. Os pesquisadores observaram que, nas experiências, os camarões tendiam a escolher a alga que proporcionasse uma proteção mais eficaz contra os predadores, em vez de preferir as algas nativas.
Adicionalmente, quando os camarões foram colocados em situações onde podiam escolher entre a alga nativa vermelha e a exótica marrom, a maioria preferiu o sargaço. Isso sugere que, mesmo que as cores não coincidam, a complexidade estrutural da alga invasora pode oferecer melhores condições de proteção.
Os camarões-camaleão levam até 30 dias para mudar sua cor de acordo com a alga em que se encontram. A mudança de vermelho para verde acontece mais rapidamente do que na direção oposta, devido aos pigmentos presentes nas células, conhecidos como cromatóforos. Para que os camarões verdes consigam mudar para a coloração vermelha, é necessário que eles adquiram o pigmento vermelho, um processo que pode levar mais tempo e exigir maior consumo de energia.
Ainda existem questões a serem exploradas sobre como os camarões reconhecem as algas e se essa escolha é influenciada pela visão. Os pesquisadores estão investigando se as algas emitem sinais químicos que possam ser detectados pelos camarões, além de como a presença de poluentes na água pode afetar essa percepção.
Embora a interação com algas exóticas não pareça estar comprometendo a capacidade de camuflagem dos camarões, os impactos a longo prazo dessa interação ainda são incertos. Espécies invasoras são conhecidas por causar danos significativos aos ecossistemas, e é vital monitorar essa relação.
O artigo completo intitulado "Adaptation in the Anthropocene: How behavioural choice and colour change enables chameleon prawns to camouflage on non-native seaweeds" está disponível em: Journal of Animal Ecology.
Informações da Agência FAPESP