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Descubra como eram difundidas as questões morais e comportamentais na Idade Média em um livro revelador

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Circula, atualmente, pelas redes sociais uma série de costumes e práticas que dizem respeito à construção de uma disciplina voltada para o corpo. Nessa seara, figuram influenciadores com discursos sobre a importância de ter constância na prática do exercício físico e a necessidade do autocuidado.

Esse discurso médico prevaleceu a partir do século 19 e vem se modificando e sendo difundido por diferentes meios até hoje. Ao longo da Idade Média, no entanto, era o discurso eclesiástico que ordenava o corpo e o espírito. Nele havia um valor de verdade conferido, semelhante ao que a sociedade contemporânea atribui ao discurso médico, e que muito tem a revelar sobre questões cotidianas daquele tempo.

Leandro Alves Teodoro, professor de História Medieval do Departamento de História da Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus de Assis, é autor do livro Guias dos costumes cristãos castelhanos: o Espelho da alma e outros opúsculos pastorais dos séculos XIII, XIV e XV, obra publicada recentemente pela Editora Unicamp e que traz a tradução de opúsculos até então inéditos em português e a noção de como circulavam costumes e crenças cristãs no solo ibérico em plena Idade Média. O livro é um dos trabalhos produzidos no âmbito da pesquisa “O ensino da fé cristã na península Ibérica (sécs. XIV, XV e XVI)”, apoiada pela FAPESP.

De acordo com Teodoro, o trabalho busca mostrar como se dava a produção de recomendações para a fixação de condutas morais e comportamentais. Esses documentos eclesiásticos falam sobretudo do cotidiano na Idade Média e sobre moral e comportamentos. A partir deles, é possível perceber como uma ação básica poderia ser fixada e aprendida. É claro que a igreja tinha um papel fundamental nisso, mas o livro conta com uma variedade de textos que mostram não só as questões que estavam em voga na época, mas também como esse conteúdo era disseminado, que palavras eram usadas e muito da vida no reino de Castela naquele período.

A partir de textos como “Breve doctrina y enseñança”, de Frei Hernando de Talavera, confessor de Isabel I – rainha de Castela e Leão de 1474 a 1504 – e primeiro arcebispo de Granada, ensinam-se rudimentos do alfabeto e da gramática. Já em “Provechoso tractado de cómo devemos aver mucho cuydado de espender muy bien el tiempo”, dirigido inicialmente à Condessa de Benavente e depois impresso em 1496, o objetivo era refletir sobre como dividir o tempo – com horas dedicadas à oração e à caridade, por exemplo –, além de questões morais sobre como evitar os excessos alimentares ou como tratar as pessoas.

São livros-motivos que ensinavam certos…

A palavra tem um caráter central para compreender como foi feita a difusão desses conteúdos. Teodoro apresenta estruturas retóricas do final da Idade Média escritas em castelhano, respeitando as estruturas gramaticais e o vocabulário da época. O vocabulário e a estrutura dos textos podem causar estranheza ao leitor do século 21, mas essa é a intenção: causar espanto para que o leitor possa perceber essas estruturas retóricas tão caras a uma sociedade que não é mais a nossa.

Um exemplo sobre a importância da palavra está no texto “Glosa del Pater Noster”, obra comumente atribuída ao bispo de Jaén, em que a oração do Pai Nosso é traduzida do latim e explicada de maneira simples, para que conversos e cristãos a memorizassem e reconhecessem o valor de seu conteúdo.

Já o opúsculo “Espejo del alma”, de Lope Fernández de Minaya, é recheado de adjetivos e metáforas que permitem compreender preocupações da vida medieval em várias práticas, como alimentação, cuidados com os seus dentro e fora de casa e a manutenção da amizade.

Mais informações sobre o livro podem ser encontradas em: https://editoraunicamp.com.br/catalogo/?id=1913.

Informações da Agência FAPESP

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