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O futuro dos navios de carga: uma visão inovadora

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Core Power, uma startup do setor nuclear, firmou parceria com o Lloyd’s Register e Maersk, gigante do transporte marítimo, para investigar o potencial da energia nuclear de quarta geração nos navios de carga livres de carbono. A meta é revolucionar as regulamentações e superar desafios técnicos, a fim de implementar essa tecnologia no transporte marítimo global nos próximos 15 anos.

Em 21 de julho de 1959, o navio NS Savannah marcou o início de uma nova era no transporte marítimo comercial. Construído por um valor exorbitante de US$ 46,9 milhões (equivalente a US$ 495 milhões em 2024), como parte do programa “Átomos para a Paz” liderado pelo presidente americano Dwight D. Eisenhower, o Savannah foi um navio demonstrador destinado a mostrar o uso pacífico da energia nuclear em atividades comerciais.

Apesar de ser uma façanha da engenharia náutica e um belo exemplar estético da era atômica, o Savannah navegou apenas de 1962 a 1972, sendo posteriormente convertido em um navio-museu em Baltimore, Maryland.

Até o momento, somente quatro navios de carga movidos a energia nuclear foram construídos, e apenas o Sevmorput, em operação na Rússia, mantém atendimento às rotas comerciais no Ártico. O mercado para tais navios não se consolidou devido aos elevados custos operacionais, à necessidade de tripulações extremamente treinadas e à falta de infraestrutura portuária adequada para embarcações nucleares.

Adicionalmente, as exigências regulamentares complicadas e incertas tanto em âmbito doméstico quanto internacional contribuíram para a dificuldade na comercialização desses tipos de navios.

Contudo, frente à urgência da neutralização de carbono até 2050, o setor naval está passando por uma transformação significativa. Estima-se que a indústria consuma aproximadamente 300 milhões de toneladas de combustíveis fósseis por ano, desencadeando 3% das emissões globais de gases de efeito estufa. Diversas alternativas estão sendo estudadas, e a energia nuclear, por meio de reatores de quarta geração, desponta como a solução mais viável pelo prisma das empresas.

Atualmente, aproximadamente 200 reatores nucleares estão em operação em 160 navios e submarinos militares ao redor do mundo, registrando um histórico incontestável de segurança. No entanto, esses reatores militares não são apropriados para navios civis, sobretudo em função de questões de segurança.

É nesse contexto que empresas como a TerraPower dos EUA, a britânica Newcleo, a Core Power, a NuProShip norueguesa, a Fincantieri italiana e a Imabari Shipbuilding japonesa estão investindo em reatores avançados para grandes navios porta-contêineres e embarcações similares.

Os reatores propostos assemelham-se aos reatores modulares avançados em desenvolvimento para uso terrestre. Dentre os modelos mais promissores, destacam-se o reator de sal fundido alimentado por tório, o reator rápido resfriado a chumbo e o reator de leito de esferas resfriado a gás hélio.

Esses reatores dispensam a necessidade de serem contidos em vasos de pressão como os reatores comerciais tradicionais. São menos complexos, operam em temperaturas mais baixas e configuram-se como mecanismos intrinsecamente seguros, com reações nucleares autorreguladas e refrigerantes que solidificam em caso de acidente.

Apesar dos desafios técnicos a serem vencidos, a questão regulatória encara-se como o maior obstáculo para o consórcio liderado pelo Lloyd’s Register.

Sendo assim, os parceiros não apenas concentram seus esforços em embasar com firmeza técnica e econômica os navios de carga nucleares de quarta geração, como também em alinhar ou atualizar as normas vigentes para consolidar essas embarcações como atores protagonistas nos próximos 15 anos.

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Como destacou o CEO do Lloyd’s Register, Nick Brown, “O início deste estudo conjunto marca o começo de uma jornada emocionante em direção ao desbloqueio do potencial da energia nuclear na indústria marítima, pavimentando o caminho para uma operação sem emissões, redes de serviços ágeis e maior eficiência na cadeia de suprimentos. Um caminho multifuel para a descarbonização marítima é essencial para assegurar que, como indústria, cumpramos as metas de redução de emissões estabelecidas pela OMI, e a propulsão nuclear emerge como um componente essencial nessa transição energética”.

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