A série Bebê Rena, disponível na plataforma Netflix, tem conquistado grande popularidade nas últimas semanas, ao abordar a história de uma stalker que perseguiu um comediante. A trama é inspirada em eventos verídicos e tem gerado repercussão não só entre os espectadores, mas também nos bastidores legais.
De acordo com informações divulgadas pelo Deadline, um legislador britânico desafiou a Netflix a apresentar provas em relação à alegação de que a personagem Martha “da vida real” possui uma condenação por perseguição, conforme retratado na série. Na realidade, a figura da Martha nos episódios corresponde a Fiona Harvey, a mulher que teria assediado o comediante Richard Gadd, criador de Bebê Rena e intérprete de si mesmo na produção, com o nome de Donny.
O deputado John Nicolson, do Partido Nacional Escocês e membro do influente Comitê de Cultura, Mídia e Esporte do Parlamento do Reino Unido, afirmou que a Netflix tem a obrigação de respaldar as afirmações feitas na série em relação às “histórias reais” vividas por Richard Gadd, especialmente depois que Fiona Harvey foi identificada como Martha. Nicolson solicitou ao diretor sênior de políticas públicas da Netflix no Reino Unido, Benjamin King, fornecer evidências do registro criminal de Harvey, em meio à afirmação de que Bebê Rena representa a “história verídica do terrível abuso sofrido por Gadd nas mãos de uma stalker condenada”.
O legislador questionou diretamente a veracidade das declarações feitas pela Netflix, ao destacar a importância de comprovar a base factual por trás da trama. Apesar de não acusar King de mentir, Nicolson salientou que falsas declarações conscientes durante audiências parlamentares podem resultar em desacato ao Parlamento, conforme a legislação do Reino Unido.
Por outro lado, a própria stalker que inspirou a série Bebê Rena negou os acontecimentos retratados durante a dramatização. Em Bebê Rena, Martha é representada como culpada de perseguição e condenada à prisão após uma denúncia do personagem Donny. No entanto, desde a identificação de Fiona Harvey como a inspiração para Martha, ela rejeitou as acusações, contestando a existência de qualquer evidência que a vincule a crimes de perseguição.
Um advogado atuando em nome de Fiona Harvey levantou a possibilidade de processo por difamação, argumentando que retratar alguém publicamente como um condenado sem provas concretas pode prejudicar gravemente a reputação da pessoa em questão. Porém, a Netflix permaneceu em silêncio em relação às controvérsias envolvendo Bebê Rena. Durante a audiência no comitê, Benjamin King afirmou que a plataforma tomou medidas para proteger as identidades dos indivíduos retratados na série, ressaltando que foram tomadas “todas as precauções razoáveis” nesse sentido.
Diante do embate entre a ficção televisiva e a realidade jurídica, a série Bebê Rena se torna centro de uma polêmica que levanta questões sobre a responsabilidade das plataformas de streaming ao abordar eventos baseados em fatos reais. Enquanto os espectadores continuam sua imersão na trama criada por Richard Gadd, nos bastidores burocráticos e interpessoais, a batalha por veracidade e integridade narrativa segue em curso, exigindo transparência e clareza por parte dos envolvidos.