Historiador se revolta com venda de cerâmicas de negros escravizados em loja no aeroporto de Salvador

Por Redação
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A venda de peças de cerâmicas de negras e negros escravizados em uma loja que fica no aeroporto de Salvador, gerou indignação nas redes sociais nesta segunda-feira (7). As imagens foram publicadas pelo historiador carioca Paulo Cruz, que visitava a capital baiana e estava no aeroporto em retorno para o Rio de Janeiro, cidade onde mora.

As peças, em alusão ao sistema escravocrata no Brasil, mostram mulheres e homens acorrentados pelas mãos. Expostos e vendidos como “obra de arte”, as cerâmicas estavam na prateleira principal da loja, com uma etiqueta: “Escravos de cerâmica – R$ 99,90, a unidade”.

A imagem foi feita no final da tarde de domingo (6), no estabelecimento e na postagem, Paulo frisou que a peça foi encontrada na cidade mais preta da América.

“Último dia de viagem. Cidade mais preta das Américas. No aeroporto internacional de Salvador a loja Hangar das Artes exibe em sua prateleira figuras de escravos à venda. ACORRENTADOS. No porto de entrada e saída da cidade, repito, mais preta da América. O preço da nossa história, genocídio e dor? R$99,90. Vamos lá perguntar se eles são racistas?”, escreveu o historiador na legenda junto a foto publicada em suas redes sociais.

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O ativista Antônio Isupério, que possui mais de 83 mil seguidores em suas redes sociais, também compartilhou a revolta do historiador e criticou a venda, gerando uma repercussão maior e ganhando ainda mais força.

“Você imagina que poderia ter um boneco de crianças judias em ‘forninhos’ para serem vendidas como adereços? Então, isso não acontece porque o repúdio à violência do Nazismo já está em domínio público, enquanto nós n*gros ainda estamos em processo de conquista da nossa humanidade. Quem será que compra um boneco de pessoas escravizadas? A quem isso serve”, disse Antônio Isupério.

 

Leia a nota de retratação da loja Hangard das Artes:

A loja Hangar das Artes vem a público se retratar e esclarecer os fatos ocorridos na manhã de hoje (07/02/2022).

Trata-se de uma empresa que emprega inúmeras pessoas, atuante no mercado de artesanato e obras de arte há mais de 20 anos, comercializando e divulgando a confecção de obras de diversos artistas regionais, sempre incentivando a produção daquele pequeno artesão cujo seu sustento depende exclusivamente de sua arte.

Todas as obras que exibimos são voltadas para a exaltação da cultura e história baiana e brasileira. Nossa loja está localizada no Aeroporto de Salvador e sempre exaltou as diversas culturas, com ênfase na cultura africana, já que temos orgulho de demarcar que somos, provavelmente, a cidade mais negra fora de África. Sempre com muito respeito e admiração.

As imagens que estão circulando, de algumas de nossas esculturas, tratam-se da imagem do Preto(a) Velho(a) – espíritos que se apresentam sob o arquétipo de velhos africanos que viveram nas senzalas, majoritariamente como escravos, entidades essas que trabalham com a caridade e cuidam de todas as pessoas que os procuram para melhorar a saúde, abrir caminhos e ter proteção no dia a dia. Por isso, algumas das peças possuem correntes, na tentativa (ERRÔNEA) de retratar a história dessa entidade de maneira literal. Erramos na forma em que as peças foram expostas e em descrevê-los apenas como escravos, apagando, de certa forma, a história que carrega.

Pedimos nossas mais sinceras desculpas a todos que se sentiram feridos e menosprezados pela maneira como conduzimos às coisas. Nossa intenção JAMAIS foi menosprezar, ferir ou destituir da imagem de uma entidade tão importante e a potência de sua história. Nossas correntes foram quebradas! E não queremos de maneira alguma trazer de volta memórias desse passado tenebroso e vergonhoso.

Por isso, retiramos todas as peças de circulação afim de minimamente nos retratar diante do ocorrido. Sabemos que não se apaga o que foi feito, mas reconhecemos a nossa falha e não tornaremos a repeti-la, não só pela repercussão que houve e sim por não condizer com a nossa verdade.

Nossas sinceras desculpas pelo ocorrido.

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