
O Brasil atingiu a assombrosa marca de 65,6 mil assassinatos em 2017. É o maior número já registrado. Os dados são do Atlas da Violência, divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, nesta quarta-feira (5). A informação é do G1.
“O que está acontecendo no Brasil é algo realmente estonteante e fora dos padrões mundiais. Poucos países se aproximam do Brasil em termos de taxa de homicídio”, destacou o coordenador da pesquisa, Daniel Cerqueira, em entrevista coletiva, no Rio de Janeiro.
Os dados divulgados no Atlas foram obtidos do Sistema de Informações sobre Mortalidade, do Ministério da Saúde. Muitos dos dados contrastam com as informações reveladas pelas Secretarias de Segurança Pública dos estados. A Bahia, por exemplo tem uma diferença de 572 mortes a mais, em relação ao divulgado pela SSP.
“Segurança pública e Saúde contam com metodologias distintas para contabilização das mortes, pois seus sistemas de informação servem a propósitos distintos. Para o sistema de segurança pública e justiça criminal importa saber se houve ou não um crime e tipificá-lo de acordo com a categoria penal correta, ao passo que para a saúde importam as informações de cunho epidemiológico relacionadas ao perfil da vítima e em que contexto morreu”, aponta o estudo.
O Brasil chegou à impressionante marca de 31,6 mortes por 100 mil habitantes. O Norte e o Nordeste do país são as regiões com maior crescimento da violência letal. “Possivelmente o forte crescimento da letalidade nas regiões Norte e Nordeste nos últimos anos tenha sido influenciado pela guerra de facções criminosas deflagrada entre junho e julho de 2016 entre os dois maiores grupos de narcotraficantes do país, o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV) e seus aliados regionais — principalmente as facções denominadas como Família do Norte, Guardiões do Estado, Okaida, Estados Unidos e Sindicato do Crime”, disseram os pesquisadores.
Jovens são as maiores vítimas
O estudo aponta também que a maior parcela dos homicídios são contra vítimas que possuem entre 15 e 29 anos. Em 2017, 35.783 jovens nesta faixa etária morreram, uma taxa absurda de 69,9 mortes por 100 mil habitantes.
“Nesse ponto, é fundamental que se façam investimentos na juventude, por meio de políticas focalizadas nos territórios mais vulneráveis socioeconomicamente, de modo a garantir condições de desenvolvimento infanto-juvenil, acesso à educação, cultura e esportes, além de mecanismos para facilitar o ingresso do jovem no mercado de trabalho. Inúmeros trabalhos científicos internacionais, como os do Prêmio Nobel James Heckman, mostram que é muito mais barato investir na primeira infância e juventude para evitar que a criança de hoje se torne o criminoso de amanhã, do que aportar recursos nas infrutíferas e dispendiosas ações de repressão bélica ao crime na ponta e encarceramento”, afirma o estudo.
Negros correspondem a 75% das vítimas de assassinatos
O estudo mostra ainda que 75,5% das vítimas de homicídio em 2017 no Brasil, eram negras. “A taxa de homicídios por 100 mil negros foi de 43,1, ao passo que a taxa de não negros (brancos, amarelos e indígenas) foi de 16,0. Ou seja, proporcionalmente às respectivas populações, para cada indivíduo não negro que sofreu homicídio em 2017, aproximadamente, 2,7 negros foram mortos”, relata o estudo.