A Força das Águas: A Luta e a Cultura dos Pescadores Artesanais no Brasil
Elaine Barreto, uma marisqueira do povoado Taiçoca de Fora, em Nossa Senhora do Socorro, Sergipe, inicia suas manhãs com a coragem que caracteriza a vida dos pescadores artesanais. Com um balde e um facão em mãos, ela caminha em direção ao mangue, onde extrai sutinga e sururu, frutos de um trabalho que, embora árduo, é repleto de dignidade e orgulho. “Ser marisqueira é ter dignidade e orgulho de ser pescadora artesanal. A nossa busca por melhorias começa quando subimos no barco e entramos nas águas. O rio representa a nossa vida e a possibilidade de ter o prato na mesa”, destaca Elaine, enfatizando a conexão íntima e respeitosa que os pescadores têm com a natureza.
A realidade de Seu Raul, pescador da cidade de São Sebastião da Boa Vista, no Pará, é igualmente inspiradora. Desde a infância, ele navega pelos rios, aprendendo os mistérios das águas. “A pesca artesanal vive nas entranhas de qualquer marajoara”, revela, refletindo a profunda tradição cultural que permeia sua vida e a de sua comunidade.
Esses profissionais, que somam mais de 1,6 milhão de pessoas no Brasil, são responsáveis por mais de 60% do pescado consumido no país, assegurando não apenas o sustento de suas famílias, mas também uma alimentação saudável para muitos lares brasileiros. Além disso, eles impulsionam expressões artísticas e socioculturais, como a música e a comunicação comunitária, fundamentais para a preservação de suas identidades.
Cultura e Resistência: Sururu e Samba
As mãos que colhem sururu nos mangues de Sergipe são as mesmas que tocam instrumentos e dançam no Samba de Coco, uma manifestação cultural rica e vibrante. Elaine relata que muitas marisqueiras de sua comunidade integram esse grupo musical, que celebra a cultura negra local através de canções e danças.
Por outro lado, Seu Raul é uma voz ativa nas rádios comunitárias da ilha de Marajó, onde utiliza o meio de comunicação para promover as tradições populares e fortalecer a identidade pesqueira. Sua experiência em rádio, que começou em 2006, traz à tona as histórias e desafios enfrentados pelos pescadores.
Valorização dos Saberes Tradicionais
O Movimento dos Pescadores e Pescadoras Artesanais (MPA) tem se empenhado em projetos que valorizam os saberes tradicionais e modos de vida das comunidades pesqueiras. Iniciativas como a produção de biojoias com escamas de peixe na vila de Jubim, no Pará, e oficinas de audiovisual em Abreu do Una, em Pernambuco, conectam a pesca com a arte e a cultura.
Cristiano Ramalho, secretário Nacional da Pesca Artesanal, destaca a importância dessas manifestações: “É impossível pensar a pesca somente como atividade econômica; ela é um patrimônio cultural e um modo de vida que estão enraizados em seus territórios.” Em parceria com o Ministério da Cultura, o MPA está desenvolvendo editais voltados às culturas pesqueiras, que devem ser lançados em breve, reforçando o compromisso com a valorização das tradições.
Conclusão
A vida dos pescadores e marisqueiras, como Elaine Barreto e Seu Raul, é um testemunho da resistência e da riqueza cultural dos povos da pesca artesanal no Brasil. Suas histórias não apenas ressaltam a importância econômica da atividade, mas também revelam um profundo vínculo com a terra, o mar e a cultura, clamando por reconhecimento e valorização. A preservação de suas tradições é essencial para a construção de um futuro mais justo e sustentável, onde a dignidade e a identidade se entrelaçam nas águas que sustentam a vida.
Com informações da Agência Gov
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