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Diretora exonerada do Hospital Ouro Negro diz que não teve culpa e aponta série de erros

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Exonerada da direção do Hospital Ouro Negro, em Candeias, na região metropolitana de Salvador, em decorrência do caso da criança que teve o corpo "arrumado" pela família no caixão na rua, ao lado de uma caixa de lixo, Érica Oliveira vai explicar o caso em sessão na Câmara de Vereadores da cidade, marcada para a próxima quinta-feira (18). Antes, ao G1, ela adiantou que não teve culpa sobre o fato ocorrido no dia 9 de junho e que foi convidada a voltar a trabalhar na gestão municipal.

Uma testemunha registrou em vídeo o momento em que o pai da criança prepara o caixão na rua, ao lado de uma caixa de lixo. Depois da filmagem, o caixão teria sido colocado no fundo do carro da funerária. A família não detalhou as causas da morte.

Érica conta que, no dia do ocorrido, o necrotério do hospital tinha três corpos com suspeita de Covid-19 e não poderia receber a criança, uma vez que poderia acontecer risco de contaminação. Com isso, com a chegada da funerária, o corpo deveria ser levado diretamente e não arrumado no necrotério.

“À tarde, recebi telefone da internação. Na conversa com enfermeira, o pai chegou e informou que carro da funerária tinha acabado de chegar. Ao invés da enfermaria ligar para Assistência Social para acompanhar o processo, ela não chamou o Serviço Social. O serviço social também tinha que ser proativo. A enfermeira chamou a técnica para entregar o corpo e, no caminho, ela encontrou o agente de portaria", conta.

"Chegando no local, o agente de portaria informou que não poderiam arrumar o corpo dentro do necrotério e teriam que levar. Depois disso, ele saiu do local e foi até a recepção com avô da criança para assinar protocolo de entrega. Enquanto isso, ficou minha técnica enfermagem com o agente de funerária. Ela entregou corpo, e ao invés de botar no carro, ele [agente da funerária] colocou em cima do capô para assinar o protocolo. Ele já fez errado, e minha técnica não recriminou. Poderia esperar para assinar protocolo depois. Ele não fez isso”, completa.

Em seguida, segundo Érica, o pai da criança pediu para tirar uma foto e, para ajudar o homem, o agente da funerária então colocou o corpo no chão. Foi nesse momento, de acordo com a ex-diretora, que um vereador foi chamado por funcionário de lava jato e registrou o caso.

“Nesse momento que botou corpo em cima do capô, o pai começou a mexer no lençol no corpo para tirar foto. Minha técnica, ao invés de dizer que não poderia tirar foto, só fez dizer para ter cuidado na hora de tirar o pano e não machucar a pele que vai se degradando e ela deu as costas”.

“Em nenhum momento eles me chamaram. A técnica disse que ia arrumar para tirar a foto. Foi nessa hora que ele [agente da funerária] botou caixão no chão para o pai tirar foto. […]Ele [o vereador] estava na câmara e naquele dia ia ter uma sessão. Nosso funcionário do lava jato avisou, e ele veio correndo com tudo para filmar”, continua.
Érica acredita que houve uma série de erros no caso.

“Foi uma sequência de erros: falta de profissional, já que que ele não poderia ter ficado sozinho. A assistente social que sabe que é obrigação acompanhar funerária. Então isso tudo acarretou, o agente funerário também de colocar o corpo no chão. Teve erro da secretaria [de Saúde] no quantitativo de profissionais, serviço. Depois a técnica, que deixou os dois sozinhos. Ninguém viu ele colocando o caixão no chão. Quando auxiliar de portaria chegou, o caixão já estava no chão. A técnica saiu, achou que tinha entregado e não tinha responsabilidade. Tem que ser acompanhado por funcionário nosso. Não pode deixar sozinho. Se eu tivesse com alguém ali não permitiria”.

Subsecretário sugere a diretora exonerada possibilidade de ser remanejada — Foto: Reprodução

A Secretaria de Saúde da cidade abriu sindicância para apurar o ocorrido no dia 9 deste mês. Dois dias depois, a secretaria de saúde, Soraia Cabral, informou que um diretor, uma enfermeira e um auxiliar de serviços gerais foram exonerados dos cargos na unidade hospitalar.

Em mensagens trocadas com Sérgio Santana, que Soraia diz ser o subsecretário da pasta, ela relata que só teve a possibilidade de ser ouvida quando já tinha sido exonerada. A ex-diretora do hospital afirma ainda que um dos profissionais exonerados foi apenas realocado para outra função.

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“Em nenhum momento a secretaria me chamou para conversar. Só que eu fui exonerada. Saiu como se eu tivesse sido a culpada. E os outros dois que falou que exonerou e não exonerou. Um for realocado para Samu. A outra foi obrigada a demitir a técnica depois que começaram a falar que só eu fui demitida”, diz.

No último domingo (15), Érica afirma que Sérgio Santana entrou em contato e sugeriu que ela poderia ser remanejada em conversa com a secretária Soraia Cabral. A profissional recusou a proposta.

“Recebi ligação do subsecretário dizendo que viu minha matéria, que fui exonerada, mas não da gestão e poderia realocar, disse que a gente consegue dar um jeito. Mancha minha carreira em nível nacional, perdi entrevista de emprego por uma coisa que não tive culpa, fiz meu trabalho. Conseguir emprego agora vai ser difícil porque área de trabalho é restrita", disse.

Através de nota, a prefeitura de Candeias disse que Sérgio Santana não responde pela subsecretaria de Saúde desde 2 de outubro de 2019. Segundo a administração municipal, atualmente ele atua como enfermeiro, designado como assessor da Secretaria de Saúde. A nota da prefeitura ainda diz que Santana afirma que não falou em nome da gestão, e sim como amigo pessoal, esclarecendo que mesmo afastada do cargo de diretora, poderia sugerir o aproveitamento. "Ressalta-se que toda a conversa foi de caráter pessoal e privada, em nenhum momento expressando decisão da gestão", diz a nota da prefeitura.

Soraia conta que possui anos de experiência em gestão e que lutou muito pela carreira profissional que tem. "Em primeiro lugar é minha carreira profissional. Não vou permitir que jogue em minhas costas. Lutei muito por minha carreira. Tenho seis anos de gestão. Não posso jogar assim no lixo. Me doei muito no hospital. Não poderia deixar hospital desandar. Já tirei dinheiro do meu bolso para providenciar coisas que a prefeitura não conseguia”, conclui.

A prefeitura de Candeias ainda informou que "não delimitou culpados, mas tão somente procedeu à uma ação afirmativa face aos graves fatos ocorridos nas dependências do hospital e sob a égide da gestão administrativa da senhora Érica".

A administração municipal também afirmou que a sindicância administrativa instaurada é um procedimento simplificado, que visa apenas delimitar e individualizar a responsabilidade pelos fatos ocorridos, não tendo caráter acusatório ou punitivo, o que só seria possível através de um processo administrativo disciplinar.

"Até o momento, a única a se atribuir culpa foi ela mesma, pois em nenhum momento a gestão a acusou. A mesma foi demitida por ocupar posição cuja indicação é facultada à gestão municipal", disse nota enviada pela prefeitura da cidade.

A comissão de sindicância, ainda segundo a administração de Candeias, tem um prazo para concluir os trabalhos, e que a oitiva deverá ser feita em momento oportuno.

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