Na última sexta-feira (10), o governo federal deu início a uma série de exonerações de indicados políticos associados a parlamentares que se opuseram à medida provisória (MP) que previa o aumento de impostos. As informações foram publicadas pela coluna Painel, da Folha de S. Paulo.
A ação é vista como uma retaliação clara do Palácio do Planalto e ocorreu dois dias após a derrota do governo na Câmara dos Deputados, onde a proposta foi rejeitada por 251 votos a 193.
As exonerações iniciais afetaram cinco superintendentes regionais de ministérios vinculados ao MDB e ao PSD. Entre os exonerados estão gestores do Ministério da Agricultura nos estados do Pará, Paraná, Minas Gerais e Maranhão, além do superintendente do DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) em Roraima.
Um assessor do Planalto, que conversou com a Folha de S. Paulo, revelou que os aliados foram previamente informados de que a votação seria “decisiva” e que aqueles que se posicionassem contra o governo estariam abrindo mão de seus cargos.
Insatisfação entre aliados
As exonerações geraram uma reação contundente entre os parlamentares do PSD, que, embora tivessem recomendado voto contrário à MP, registraram 20 votos a favor e 18 contra. Um líder da legenda criticou a medida como “pouco inteligente e sem sentido”, ressaltando que o partido foi um dos que mais apoiaram o governo durante a votação, superado apenas pelo PT.
No MDB, que havia orientado voto favorável, também houve divisão: 16 deputados apoiaram a proposta, enquanto 14 votaram contra.
Cargos em estatais também foram atingidos
Além das demissões publicadas oficialmente no Diário Oficial da União, fontes do governo confirmaram que as exonerações se estenderam a estatais como a Caixa Econômica Federal e os Correios, especialmente em cargos regionais e de assessoria. Por se tratarem de funções comissionadas, esses desligamentos não precisam ser divulgados oficialmente.
Entre os afastados está Rodrigo de Lemos Lopes, aliado do deputado Altineu Côrtes (PL-RJ), que perdeu o cargo de vice-presidente de Sustentabilidade e Cidadania Digital da Caixa. Ele será temporariamente substituído por Jean Rodrigues Benevides, diretor executivo da área.
Outro nome destituído foi José Trabulo Júnior, consultor do presidente da Caixa, Carlos Vieira, e aliado do senador Ciro Nogueira (PP-PI). Trabulo já havia sido diretor da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) e integrava o conselho fiscal da Caixa Corretora.
Reorganização política
De acordo com a Folha de S. Paulo, novas exonerações podem impactar indicados de parlamentares do União Brasil e do PP, partidos que recentemente se distanciaram da base aliada e estão formando uma frente oposicionista para as eleições de 2026.
Essas legendas, no entanto, ainda controlam cargos e diretorias estratégicas em estatais como Codevasf, Telebras e Correios, além de posições regionais em ministérios.
Na quarta-feira (8), dia da votação da MP, o PP e o União Brasil puniram seus ministros André Fufuca (Esportes) e Celso Sabino (Turismo) por permanecerem nos cargos após o rompimento com o governo. Fufuca foi afastado de funções partidárias, enquanto Sabino enfrenta um processo de expulsão.
A medida provisória que foi rejeitada previa um impacto de R$ 20 bilhões na arrecadação, quantia considerada vital pelo governo para evitar cortes de despesas em 2026, um ano eleitoral. Com essa derrota, o Planalto inicia uma “limpeza política” com a intenção de fortalecer sua base leal e manter alianças estratégicas com parte do centrão na corrida presidencial de 2026.